No cume daquele monte
Há um panteão em ruína
Nele habitava uma cega senhora
Outrora vista como heroína
Protetora dos oprimidos
Tratava todos como iguais
Diante dela tudo era justo
Disso não se esquecia jamais
Ela simbolizava a justiça
Não importava a condição
Independente de quem fosse
Se um gigante ou anão
Tamanha era sua importância
Para o povo ou nação
Certo dia entenderam
Que ela precisava de proteção
Reuniram-se os sábios e os notáveis
Como rezava a antiga tradição
Depois de muito discutirem
Construíram-lhe um guardião
Chamaram-no de Supremo
E lhe atribuíram a missão
Fizeram-no poderoso
Mais forte que um dragão
Ele dominou tudo e a todos
Até enclausurou a razão
Dilacerou as virtudes
Sem dó e sem compaixão
Entregou-se à luxúria
Deitou-se com as vaidades
Hoje só se ouvem lamúrias
Diante das gigantescas iniquidades
O guardião se fez de Narciso
Ele não viu o tempo passar
Não percebeu que a protegida
Com ele desistiu de morar
O guardião é a Suprema Corte Brasileira
Composta por onze ministros empossados
Que se insultam cultamente
Usando palavrórios empolados
O panteão perdeu a serventia
Ninguém mais não segue o riscado
A lei deveria ser igual para todos
Independente do patriarcado
Ele não serve mais à velha senhora
Que não tem permissão para entrar
A mantém do lado de fora
Para seu legado sepultar
Texto publicado no livro: “ Vamos Tomar um Café? -Alea Jacta Est”