Por Miqueas Liborio de Jesus
M. I. da A.R.L.S Fritz Alt nº 3.194
Introdução – A antiga busca da imortalidade
A busca pela imortalidade é tão antiga quanto a própria existência humana. Desde os primórdios, o homem volta os olhos para o infinito, tentando decifrar o mistério da morte buscando capturar o segredo da eternidade. O que outrora pertenceu aos deuses e figurava nos ritos das antigas magias, agora repousa nas mãos de cientistas e pesquisadores, que, em sua ânsia racional, buscam abrir os etéreos portais da vida eterna por meio da técnica e da máquina.
Os esforços modernos para alcançar a imortalidade assumem contornos cibernéticos — a ilusão de prolongar a matéria, a esperança de eternizar a consciência, o doce delírio de viver para sempre.
Entretanto, nessa corrida contra o tempo, o homem perde o essencial: gasta a saúde em busca de conforto e, mais tarde, consome o conforto para tentar recuperar a saúde perdida. Passa a vida inteira projetando o futuro, sem jamais habitar o presente; vive como se nunca fosse morrer e morre como se jamais tivesse vivido.
Mesmo entre os sábios, morte e imortalidade permanecem temas que despertam inquietação e reverência. Diante da degradação inevitável de tudo o que nasce, todos procuram conferir à existência um sentido mais elevado. Contudo, um antigo e persistente equívoco: imaginar que a imortalidade se confunde com a duração indefinida do tempo, como se fosse possível à matéria suportar a eternidade. Mas o que é, afinal, a imortalidade? Seria a perpetuação do corpo, ou a permanência da consciência? Seria vencer a morte, ou compreendê-la?
O crepúsculo da existência
Mirando responder as inquietações existências, pergunto: você saberia dizer quem era a pessoa mais rica ou famosa em Joinville, no ano de 1927? Acredito que ninguém saiba ou, caso saiba, pouco se importe.
Na senda da existência, depois que nos formos, quem lembrará de nós? Confesso que não sei, mas talvez alguém diga: “Olha lá, eles estiveram aqui.” Isto nos diminui ou nos torna sem valor? Penso que não, afinal a vida é um sopro entre dois mistérios — o nascer e o morrer. É o instante em que a eternidade se manifesta em forma de consciência.
Aqui, a bem da verdade, estamos de passagem, viajantes temporários num trem que segue seu curso sem retorno, com bilhete apenas de ida. Alguns viajam em primeira classe, rodeados de conforto e aplausos; outros, enfrentam o frio, o desconforto e a solidão. Contudo, quando o Chefe do trem, o Grande Arquiteto do Universo, anunciará o desembarque de todos — ricos e pobres, sábios e tolos — na mesma estação final.
Nesta viagem, abordo do trem da vida, o que nos diferencia, então, não é o tempo da viagem, mas a forma como vivemos o percurso. Como diz a canção (MILIONÁRIO & JOSÉ RICO, 1977):
“Nesta longa estrada da vida,
Vou correndo e não posso parar,
Na esperança de ser campeão,
Alcançando o primeiro lugar…”
Eis o drama humano: corremos sem cessar, buscando vitórias que o tempo logo consumirá. Esquecemos que jaz apenas cansaço e lembranças dos tempos vividos ou não vividos, assim dito pelo poeta (MILIONÁRIO & JOSÉ RICO, 1977):
“Mas o tempo cercou minha estrada
E o cansaço me dominou
Minhas vistas se escureceram
E o final da corrida chegou
Este é o exemplo da vida
Para quem não quer compreender”
Quando o cansaço nos dominar e o final da corrida chegar, perceberemos que o verdadeiro campeonato é o da alma — não o da conquista externa, mas o da retidão e da paz interior. Quando nossas vistas se escurecerem, o final desta vida chegou. O que levaremos daqui? Apenas sei que alguns terão vaga lembranças. Logo, a vida é assim. Por isso, aproveite esse momento, afinal, estamos meramente de passagem.
O trem da vida e o sentido das escolhas e da colheita
Cada escolha molda o destino. Cada pensamento, palavra ou gesto é uma semente lançada no campo da existência. Podemos plantar o que quisermos,
mas colheremos exatamente o que plantarmos.
É assim, desde o nascimento, abordo do trem da vida, nosso destino é um só: a estação da morte. Não nos é permitido conhecer o trajeto e nem a duração da jornada, mas a bagagem e as sementes estão sempre em nossas mãos. Cada um decide o tamanho do fardo que deseja levar ou as sementes que deseja plantar. Por isso canta o poeta (CRAVEIRO, C.; CRAVINHO, 2003):
Ao nascer neste mundo estamos
Embarcando no trem desta vida
Com destino à estação da morte
E só temos passagem de ida
O trajeto é desconhecido
O futuro ninguém pode ver
Nós sabemos que o trem vai chegar
Mas a hora que ele vai parar
Não compete a ninguém saberNesse trem agitado da vida
Encontramos alguns passageiros
Viajando de primeira classe
Com saúde, conforto e dinheiro
Mas a hora que o Chefe chegar
Anunciando o fim da viagem
Não se pode mais continuar
Pois a ordem é desembarcar
E na Terra deixar a bagagemTem também passageiros que sofre
Sem conforto no trem desta vida
Entre eles eu sofro também
Desde a hora da minha partida
Mesmo assim eu viajo sorrindo
Se a gente chorar é pior
Sei que um dia do trem vou descer
Mas espero que só pra fazer
Baldeação para um mundo melhor
A vida é, assim, uma geometria de escolhas. O destino não é sorte, é construção. Quem semeia amor, colhe paz. Quem espalha ódio, colhe solidão. A verdadeira colheita é interior. É o que se torna de si mesmo — e não o que se acumula no mundo.
A esperança da baldeação é o símbolo da fé no porvir. A morte não é o fim, mas o portal para uma nova jornada — um embarque em direção a planos mais sutis, onde a matéria se dissolve e a consciência floresce.
Portanto, a morte é um rito de passagem: o retorno à Casa do Pai, a reintegração ao Princípio de onde viemos. Logo, morte e imortalidade são as duas faces de uma mesma moeda — e essa moeda só tem valor quando gira na consciência do homem desperto. Quem que vive com ética, justiça e amor jamais morrerá, pois permanecerá na memória e na energia dos que foram tocados por sua luz.
É possível matar tudo que sangra, mas jamais se pode matar o exemplo. As ideias e os ideais transcendem a carne, e os gestos virtuosos erguem colunas invisíveis que sustentam o templo da humanidade. A imortalidade, portanto, é conquista da consciência; é compreender que não é vencer o tempo, mas transcendê-lo pela virtude. É a permanência do espírito no bem que produziu, na verdade que defendeu e na luz que espalhou.
A morte é o silêncio; a imortalidade, o eco. Quando este for o som da justiça, da fraternidade e do amor, então — e só então — teremos compreendido o verdadeiro segredo da vida: a morte não é o fim — é o reconhecimento de que a luz jamais se apagará. Será apenas a baldeação para um plano melhor.
Um dia, o trem da vida chegará à última estação para cada um de nós. Aquele que viajou com propósito descerá sereno, certo de ter cumprido sua missão. Bem-aventurado é aquele que é lembrado com alegria, porque foi farol em meio à escuridão, porto seguro em tempos de incerteza, e guia na travessia dos outros.
Agora responda a si mesmo: estou viajando com propósito e digno da imortalidade?
Referências bibliográficas
CRAVEIRO, C.; CRAVINHO. Trem da Vida [música]. In: Album. As Lendas Vivas da Música Raiz Sertaneja, 2003. Disponível em: https://www.letras.mus.br/craveiro-cravinho/trem-da-vida/. Acesso em: 05/11/2025
JESUS, Miqueas Libório de. Imortalidade e morte. In: _____. Vamos Tomar um Café – Alea Jacta Est. 1. ed. Joinville: MFA Editora, 2018. p. 86 – 90;
MILIONÁRIO & JOSÉ RICO. Estrada da Vida [música]. São Paulo: Warner Music/Chantecler, 1977. Disponível em: https://www.letras.mus.br/milionario-e-jose-rico/estrada-da-vida/. Acesso em: 05/11/2025.

